Do Porquê o filme Nefarious (2023) é de fato um filme de terror, principalmente se você for cristão
Marco Marchiori

Esta é uma análise do enredo do filme e da atuação dos atores, portanto contém extensivos spoilers. Caso isso não seja de interesse do leitor neste momento, recomendo aguardar até que tenha assistido ao filme antes de continuar a leitura.
Nefarious é um filme descrito por aqueles altamente experientes e qualificados como a melhor produção audiovisual que expõe não apenas o processo de uma possessão demoníaca, mas também as razões pelas quais os demônios o fazem, bem como algumas das ferramentas e meios que se utilizam para tal.
O filme inicia-se com o suicídio de um renomado psiquiatra, já aqui a apresentação que o filme faz tem importância. O muito bem-vestido psiquiatra que assina um documento, o faz com uma caneta claramente cara, em um escritório bastante bonito e bem organizado de um alto edifício. Tarde na noite, o psiquiatra se levanta de sua cara e confortável cadeira de couro, apanha sua maleta para sair, mas percebe que seu diploma chique, com letras muito bem trabalhadas e em papel levemente amarelado de doutorado em psiquiatria, pendurado na parede, não está devidamente alinhado, então marcha em direção ao mesmo e o ordena corretamente.
Ao sair de seu escritório, seu doutorado pendurado volta a se desalinhar sozinho, sem ação humana, “típico filme de susto e de demônios” o expectador pensa e logo em seguida, o filme torna a mostrar uma visão panorâmica do escritório do psiquiatra em que é possível ver o lado de fora da janela, uma cidade grande. Em poucos segundos, aparece um pomposo renomado e doutorado psiquiatra em queda livre, na direção de sua própria morte cortando para o título do filme em letras garrafais ‘NEFARIOUS’, dando início ao mesmo.
Não descreverei tão detalhadamente todas as cenas do filme, senão esse artigo terá quilômetros, no entanto, essa cena (de cinqüenta segundos) é de grande importância por um motivo simples: ela torna evidente que ações e influências demoníacas, por meios de fraquezas humanas como o orgulho, realizam coisas ruins. Eis aí toda a película resumida em uma única cena.
A cena seguinte ambienta o espectador no que deve ocorrer na próxima hora e meia mostrando o pupilo do recém-falecido psiquiatra, Dr. James Martin chegando no presídio onde ele deveria avaliar a condição psicológica de um interno, Edward Brady, sobre aquele cai a responsabilidade de definir se o analisado é atestado com ‘transtorno dissociativo de identidade’ o que o isentaria da pena máxima, a cadeira elétrica e o enviaria para tratamento psiquiátrico, ou se é apenas um frio e calculista assassino de fato.
Uma pausa para um adendo mais audiovisual, a atuação do possuído, feita por Sean Patrick Flanery é impecável.
A capacidade de interpretar o possuído com sua essência obliterada reflete-se claramente em sua fala faltosa, postura corporal contraída e expressões faciais de dor e sofrimento, em contrapartida, durante sua atuação como o demônio, suas falas são firmes, a postura é muito mais natural e o conteúdo fluído e convicto com todo o conhecimento necessário e isso pode ser visto claramente ao longo de todo o filme.
Logo no encontro entre os dois, o primeiro embate já ocorre sobre nomes e títulos e chega-se à conclusão que nomes e títulos são importantes pois permitem que todos saibam quem você é e eu iria além, nomes e títulos são importantes pois causam expectativa nas pessoas, não se espera, por exemplo, que um Padre negue fundamentos básicos da fé católica.
Em seguida, eles discutem como funciona o processo de possessão demoníaco, outro ponto muito importante que o demônio descreve como “uma sucessão de tentações que aumentam em duração e intensidade de degradação moral” e adiciona que a ausência de batismo ainda os permite começar o ‘trabalho’ antes mesmo da idade da razão, aos três ou cinco anos de idade, em suma, muito sims e poucos nãos às tentações do demônio findam por permitir a total possessão, ainda adiciona que o objetivo é exatamente parecer aleatório e sem foco e coroa informando que os demônios têm um nível de concentração desigual, que é tudo anotado e catalogado detalhadamente pra que possam avançar com sua agenda. Ainda informa que existem níveis de controle sobre o corpo do hospedeiro, nomeados e bem descritos, são eles, tentação extrema, obsessão, infestação e, por fim, subjugação “Com ‘s’ maiúsculo”, pontua.
Dois pontos interessantes de se trazer atenção são essa questão de fazer parecer que os eventos são aleatórios, pois se o único objetivo de um demônio é distorcer a alma de um o suficiente pra que seja condenado ao inferno, é evidente que buscará fazê-lo de forma que chame o mínimo de atenção possível.
Além disso, se é seu único objetivo, é igualmente evidente que seu nível de foco será desigual, primeiro por ser um ser cuja compreensão ultrapassa a capacidade de qualquer humano, depois que basta influenciar a pessoa a quebrar regras suficientes pra que sua alma deixe de estar apta a adentrar o paraíso. Do ponto de vista do demônio, esse objetivo não é muito difícil num mundo como o de hoje em que tudo empurra a todos na direção do pecado.
Na próxima cena, o psiquiatra afirma que essas coisas todas não o afetam por ser ateu, achei um ponto importante trazer isso, afinal, como ele é ateu, aufere que isso tudo não passa de balela.
A resposta do demônio, diferente do que se espera, não foi em um tom jocoso, mas um aviso muito sério a todos que se vêem nessa posição, informa ao psiquiatra que “o inferno está cheio de pessoas cheias de teorias de como funciona o universo sem nunca admitir a possibilidade de estarem errados” ao qual o psiquiatra afirma ter o poder de salvá-lo ou condená-lo e o demônio finda essa parte com (quase) a mesma frase que Cristo disse a Pôncio Pilatos (Jo. 19-11) e que culminou com este defendendo Aquele, o demônio diz ao médico: “O que eu sei, é que não teria poder nenhum sobre mim que não tenha te sido outorgado pelo submundo”.
Como ex-ateu, posso atestar: Meu objetivo nunca foi esclarecer as pessoas, trazer conhecimento e entendimento sobre as coisas, mas professar minha religião e convencer o próximo que as coisas todas podem ser explicadas por meio de complicadas fórmulas e experimentos exaustivos que provariam situações e o demônio tem razão – uma vez que o ateu se convence e que junta suficientes evidências que apontem numa direção, ele se apega àquilo como verdade última e é por isso que é tão chato discutir com ateus, geralmente eles têm certezas inquebrantáveis.
O padre entra em cena e, logo de cara, abdica tanto de seu título como de seu nome, numa clara crítica ao clero de hoje “Sou o Padre Louis, mas pode me chamar de Lou”. O Demônio, ao ver o padre se aproximando levanta-se e se afasta da mesa o quanto seus grilhões permitem, se contorcendo e berrando “O que veio fazer aqui, padre? O Carpinteiro te mandou pra me torturar antes da hora marcada? Infelizmente pra você não sou tão fácil de se expulsar, não é?”.
A resposta do padre é tão estarrecedora que chega arder nos olhos de qualquer Cristão, ele se dirige ao psiquiatra, e não ao possuído, e responde que “infelizmente seriados e filmes de TV enchem as nossas cabeças com imagens, grande parte das vezes, metafóricas e que não devem ser tomadas literalmente”, vira-se pro detento e continua “Não estou aqui para te ferir, Edward, pessoalmente, nunca conheci um demônio, nunca participei num exorcismo e nem espero, muitas das coisas que nos incomodam são nossos medos e pensamentos desordenados”.
Bom, como se esperar outra reação de qualquer demônio que ouve essas palavras de um padre senão o relaxamento total e uma conversa agradável entre amigos que servem ao mesmo mestre? Com direito a extensa gozação da cara do padre, lógico… É do demônio que falamos.
Seguindo a saída do padre, vê-se que o demônio se encontra muito mais à vontade e deparado com outra oportunidade de zoar da cara do sacerdote, prefere ser sério e diz ao psiquiatra que se trata meramente de um poser, ou seja, um farsante, ao qual o psiquiatra diz que está sendo irracional e aqui outro ponto de importância, pois o demônio responde que é o ser mais racional que o analista jamais conhecerá. Em seguida ele pede uma prova de ser o demônio, ao qual o demônio pede algo bem sério: que o psiquiatra o aceite, o convide pra habitar seu corpo e, como qualquer bom ateu sabedor das coisas todas, ele aceita dizendo que “Tem minha completa e irrevogável permissão, habite-me” e em troca ao psiquiatra é concedido alguns minutos para conversar com o Edward, e não com o demônio. Durante essa conversa, Edward reafirma que tem um demônio habitando seu corpo e o psiquiatra segue com sua bateria profissional de perguntas às quais o detento responde que pessoas inteligentes, as vezes, têm dificuldade em enxergar coisas que todos sabem.
Bom, é claro o problema com a aceitação do psiquiatra e nem vou entrar no mérito, afinal, é um ateu, o ponto que acho mais importante aqui é justamente a fala ao final do parágrafo anterior.
Geralmente, pessoas que vivem por muito tempo em cidades grandes têm dificuldades de enxergar o vizinho como uma pessoa, os vê meramente como um número e isso ocorre justamente por essa dessensibilização que o demônio trouxe aos poucos pro mundo. Acostumados a ver uma figura como o apresentador do Jornal Nacional reportar que hoje temos sessenta mil assassinatos por ano na TV como se reportasse uma mera estatística, nos torna muito menos sensíveis ao fato de que são pessoas, com pais, mães, irmãos, que viveram uma vida, passaram por experiências que lhe ensinaram coisas. São filhos de Deus, gente como a gente, não meros números.
No fim da conversa com o detento, o demônio reassume e diz que o psiquiatra matou a própria mãe, por eutanásia, afinal, era velha, estava vivendo por meio de aparelhos e os gastos com viagens para visitá-la estavam estratosféricos, além disso, ele ganharia mais de três milhões e meio de dólares do seguro dela.
Este é um ponto importante pois hoje, em muitos países, a eutanásia é vista como uma alternativa ao fim do sofrimento daqueles que lutam contra uma grave doença e é justamente essa dessensibilização por parte do ser humano que causa essas coisas. Sem contar que a eutanásia é mais uma forma de distorcer a criação de Deus, uma vez que tudo foi criado por Ele para nos servir (Gn. 1 26), porque deveríamos nos livrar daqueles que estão ‘gastando’ os recursos? Além disso, é porta de entrada para coisas ainda mais pesadas como a eugenia. Se é permitido assassinar o idoso ou o doente, porque não também o deficiente?
Após alguns minutos para se recompor, o doutor segue fazendo perguntas de forma profissional, como se o demônio fosse meramente uma personalidade na cabeça de Edward e esse responde dando as definições de todas as cinco desordens dissociativas no manual de diagnóstico e estatística, o que não é de se esperar de quem sofre transtorno dissociativo, isso faz o médico levar a conversa para assuntos mais teológicos, segundo o médico, não esperava que um demônio advogaria em favor da existência de um criador e afirma
“Aí algo que eu não esperava, teologia? De você?” ao que o demônio traz outro ponto importante “Eu sei mais teologia que qualquer humano que já viveu”. Segue-se uma explicação bem acurada do demônio sobre a criação de tudo antes do universo como conhecemos, da criação dos anjos e, por fim, a visão distorcida que Lúcifer tem da criação dando a entender que enquanto Deus exigia gratidão eterna e portanto escravidão, enquanto Lúcifer ofereceria a verdadeira liberdade.
Então o demônio chega à criação dos humanos, como isso mudou o campo de batalha e que os demônios perceberam que para ferir a Deus, poderiam meramente distorcer aquilo que Ele mais ama, os humanos.
Ponto interessante é que Deus criou os humanos com o livre arbítrio justamente pois sem o livre arbítrio não é possível amá-Lo, afinal o amor é uma escolha e é justamente esse o objetivo do demônio: afastar tanto as pessoas de Deus até que não tenham mesmo a mínima possibilidade de conhecê-Lo, até por que não é possível amar aquilo que não se conhece.
Na cena seguinte, o psiquiatra dá seu ultimato dizendo que Edward realmente tem todas as marcas da crença, portanto o diagnostica com dissociação de personalidade e, enquanto saía da cela, o demônio o chama de volta e pergunta o que sua namorada estava fazendo naquele momento (ela estava fazendo um aborto) então, fisgado, o psiquiatra pergunta o que tem a ver com a situação, o demônio descreve como, em tempos antiquíssimos sacerdotes jogavam bebês no fogo em sacrifício ao arquidemônio Moloch ao som de tambores pra abafar os gritos e que hoje os sacerdotes usam jalecos cirúrgicos, a matança é no próprio útero de forma que nem se ouve os gritos e os restos são jogados em crematórios a gás. O demônio finda essa cena com uma performance de êxtase com dizeres do tipo “pode imaginar a agonia que O Carpinteiro sente quando despedaçamos uma criança dentro do ventre da própria mãe? Porque é isso que fazemos, James, nós e vocês, fazemos isso juntos”. E coloca o prego no caixão: “E todo o inferno se regozija!”
Novamente aqui, o demônio sai em defesa do assassinato como uma das formas de se corromper o homem, esse paralelo que ele traça entre o sacrifício de bebês para o submundo é um ponto que impressiona bastante e que faz o expectador pensar bem quanto a essa prática, afinal um bebê deveria ser uma bênção que deveria vir de uma relação entre duas pessoas sob o sacramento do casamento, mas hoje as pessoas querem se esfregar umas às outras porque é gostoso e não querem lidar com a conseqüência óbvia disso e mais, meramente mencionar que o sexo deveria vir depois do casamento se tornou uma espécie de taboo e qualquer um que o faz é imediatamente ridicularizado.
Depois de uma cena em que o psiquiatra sai desesperado tentando impedir que sua namorada siga com o procedimento, ele volta a conversar com o demônio e pede uma “explicação razoável real, não sobrenatural, de como soube que sua namorada praticaria uma ‘interrupção eletiva’ esta tarde”. O diabo ri do termo, e como não existe resposta a essa pergunta, o demônio novamente toma a frente do assunto e direciona pra o que interessa:
Não se trata de Edward e James, mas de todos os demônios e de toda a raça humana, ‘todos nós contra todos vocês’. Se esse é o caso, diz o James, seu lado não está indo bem e passa a citar questões que, em sua visão, a humanidade está vindo por cima como alfabetização, trabalhos para eliminação do racismo, intolerância a desigualdade de gênero, a diversidade não é mais um sonho, discursos de ódio não são mais tolerados, etc e etc.
O demônio responde de forma simples “O estudante de ensino médio lê no nível de sexta série, jogadores de basquete ganhando milhões e denunciando o racismo enquanto usam tênis feitos por trabalho escravo, o mundo tem coisa de quarenta milhões de escravos e metade são escravos sexuais” e então coroa com “Sobre discurso de ódio, nós nem inventamos essa, isso veio 100% de vocês.
As vezes vocês surpreendem até a nós. E agora há maldade pra todo lado e ninguém sequer se importa, aos poucos, com seus filmes, sua TV, sua mídia, dessensibilizamos vocês ao ponto de não serem capazes de ver o mau nem quando esfregado no seu nariz. Não sentem quando estão fazendo. Quanto a vencedores e perdedores, bom isso é decidido na hora da morte. Os números são guardados a sete chaves, mas tem muitos mais dos seus acabando na casa de meu mestre que com o Inimigo. Muito mais, Jimmy”.
Achei essa parte interessante de se comentar pois trata-se de duas visões completamente diferentes, enquanto pra um o mundo está bem pois parece bem o outro esfrega na cara do primeiro todos os males que acontecem tocando na ferida profundamente evidenciando que aparências enganam, inclusive aparência de fazer o bem, outra coisa que leva ao inferno com facilidade, por isso finda sua fala conforme faz.
O demônio prossegue informando o que ele quer do James: Escrever um livro que, junto a sua morte, fará pelos demônios o mesmo que a bíblia e a morte de Cristo fez por Deus, o Evangelho Sombrio, uma história, um credo para rejeitar o pacto mosaico e o conceito de pecado e ‘libertar’ toda a humanidade de vez para que possam alcançar seu potencial completo.
Bom, se pararmos pra analisar, os dez mandamentos não passam de regras simples para uma boa convivência entre pessoas e, mesmo assim, não conseguimos nem mesmo seguir essa listinha, além disso, ao fugir dessa listinha, vamos gerando atrocidades cada vez piores.
Ainda nesta cena, o demônio informa “Meu mestre desenhou todas as ferramentas imagináveis para destruir cada faceta da criação e falhamos por causa do Carpinteiro. Ele foi o espinho no nosso lado. Nossa maior ameaça.
Pensamos que se pudéssemos eliminá-lo o mundo seria nosso para sempre. Não tínhamos idéia das conseqüências. A cruz foi nosso maior erro e pensamos que tínhamos perdido, James. Até que meu mestre percebeu que o homem ainda queria ser o próprio Deus, e servir ninguém senão a si mesmo.
Enquanto o Carpinteiro exigia como preço por Seu sofrimento rotineiro é que caiam de joelhos e o adorem, o evangelho sombrio corrigirá nossos erros do passado. Eliminando o inimigo deificando o homem e elevando meu mestre a seu lugar de direito” O demônio finaliza fazendo uma proposta ao psiquiatra “James, por servir meu mestre como mensageiro, ele te oferece o mundo e tudo o que há nele, assim como ofereceu ao Carpinteiro” – Mas o Carpinteiro se recursou, diz James, e o demônio pontua: “Mas o Carpinteiro nunca afirmou que essas coisas não são de meu mestre para dar, apenas recusou a oferta e não se engane, você não é como o Carpinteiro”.
A Bíblia chama o diabo de “o príncipe deste mundo” e seu domínio é todo lugar onde a rebelião contra Deus reina. Quando vivemos no pecado, rejeitamos Deus como nosso rei e nos tornamos escravos do diabo (Ef. 2 1-2). Por causa disso, o demônio tem poder sobre nosso mundo, no entanto, Deus continua sendo o rei supremo sobre toda a criação que permite que o diabo reine sobre aqueles que vivem o pecado.
Na cena seguinte, James é levado até a cela onde o detento dorme pois encontraram um diário contendo informações sobre sua vida que, em suas próprias palavras, “Tem coisas aqui sobre mim que nem eu lembrava”. Além disso, foi encontrado um caderno escrito do início ao fim entitulado ‘Eu, Nefarious, por James Martin’ o livro que o demônio clamava que o psiquiatra escreveria.
O carcereiro alerta o psiquiatra “Bom, agora que você está com o seu na reta, vai me ajudar a executar esse maníaco, né?” - Como assim? Pergunta James, o carcereiro aponta para o dossiê completo de sua vida e responde “Bom, ele fez isso com todas suas vítimas e, bom, se não me ajudar, ele volta pra prisão normal e em algumas décadas estará livre e terá todo esse tempo pra pensar em você. Não acho que isso acabará bem…” Ao retornar para falar com o detento, esse quebra o polegar e se solta de um lado da algema, agarra James e o prende com a corrente, pede pra que implore por sua vida, mas o solta no último segundo e então James o condena à morte atestando profissionalmente sua total sanidade mental.
--- O assunto principal do filme trata da afirmação do demônio, que o psiquiatra cometeria três homicídios naquele que parecia um dia como outro qualquer, e ele realmente os comete, sendo o primeiro o assassinato de sua mãe, o segundo o de seu filho, ainda no ventre de sua namorada e o último, o do próprio detento que o psiquiatra bem sabia não ser louco, mas que condena mesmo assim temendo ser assassinado no futuro.
A questão aqui é muito simples: o psiquiatra fora tão dessensibilizado pelos demônios ao longo de sua vida que não foi capaz de ver tamanho mau que fazia em cada uma das situações supracitadas tanto que tenta se justificar quando confrontado pelo demônio ‘minha mãe estava sofrendo’, ‘Não estou pronto para ser pai’, ‘é o corpo dela, ela tem liberdade de escolha’, interessante que a escolha da criança nunca é levada em consideração.
Outro ponto que eu quero trazer é o paralelo que o Paulo Kogos teve a brilhância em trazer entre os assassinatos que o psiquiatra cometeu e as três tentações que o demônio apresentou a Cristo no deserto (Mt 4, 1-11):
No deserto, em jejum por semanas, a Cristo foi oferecido o pão, pois Ele tem o poder de tocar a pedra e transformá-lo em pão ao que Cristo responde que nem só de pão viverá o homem. O psiquiatra matou a própria mãe por sua herança que o estabeleceria bem na vida;
No deserto, a Cristo foi oferecido todas as coisas do mundo. O médico matou seu próprio filho, ainda no ventre de sua mãe, pois não estava pronto para ser pai, já que ainda tinha muito do mundo pra “aproveitar”;
No deserto, o demônio incentivou a Cristo que se jogasse do penhasco e que deixasse nas mãos de Deus, que Seus anjos o segurariam. O psiquiatra permitiu a execução do inocente Edward e fica para assistir ‘eu preciso ver se tomei a decisão certa’, ou seja: ‘Não tenho certeza e agora está nas mãos de Deus’;
Entretanto, em meu ponto de vista, o momento mais importante do filme todo é o momento que o psiquiatra perde sua postura profissional, atira o rádio pra longe, levanta-se, vai até ele para coletá-lo, traz de volta, se senta e então o demônio diz ‘pronto pro segundo assalto?’, James responde ‘Não sabia que se tratava de uma batalha’ e o demônio pontua ‘é por isso que está perdendo’.
Pois é caro leitor, nós estamos perdendo a guerra espiritual. Estamos perdendo a guerra espiritual que a esmagadora maioria das pessoas nem mesmo têm idéia que está ocorrendo agora mesmo. Veja bem, se o objetivo do demônio é destruir aquilo que Deus mais ama e o que Deus mais ama é você, é apenas lógico que o demônio esteja a todo tempo te observando e buscando qualquer deslize seu para atentar contra sua alma, é por isso que protestantes vivem repetindo ‘vigiai, irmão’ e não estão errados.
Graças a Adão e Eva, já nascemos com o pecado original e perdendo a guerra, é o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo que qualquer um pode executar, importante passar essa informação adiante, que nos permite iniciar na guerra do lado direito.
No entanto, temos uma arma que o demônio não tem capacidade de entender: A humildade.
Explico: Na única cena que o psiquiatra fez uma pergunta inteligente (na minha opinião) ele questiona porque o demônio se revoltou contra um ser onipotente, onisciente e onipresente. Bom, meio minuto pensando na resposta do demônio leva qualquer um à conclusão mais simples: O entendimento de Lúcifer sobre ‘liberdade’ seria melhor que o entendimento de Deus. Esse simples fato denota claramente que o demônio não tem a menor compreensão sobre humildade, algo tão simples e claro para nós humanos.
A ideia de usar o nosso livre arbítrio para nos submeter a Deus é a única defesa que temos contra a verdadeira escravidão, a escravidão demoníaca, a escravidão de nossas concupiscências, conforme disse Santo Agostinho.
Desculpem-me aí, qualquer que seja a produção audiovisual, por mais bem-feita que seja, com monstros feios, detalhados e com uso excessivo de repentinos efeitos sonoros agudos para nos assustar em momentos chave será muito menos filme de terror do que Nefarious.
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